Dédalo

Peço a Deus que te conforte o coração,
Pois eu mesmo tive o meu ferido,
Ouvindo o farfalhar precipitado,
Da ida de uma alma inquieta.

Primavera (A rúbia)

Foste embora, brisa morna. Brusca como vieste.
Esquentaste tardes frias, dia após dia após dia.
És cor, és amor, és amizade.
Foste bela bagunça que não pude evitar.
Me tomaste pela mão, me juraste ser fácil,
montar um tigre celta com presas de esmeralda.

Sei por que me maldisseste, à renúncia de meu voto.
Pois te havia dado colo e te havia dado abrigo,
e o que aconteceu comigo foi catarse, foi luxúria.
Quando planaste ao sul, creste bem em retornar,
mas não pude mais jogar e me afastei de teu calor.
Foste embora, brisa morna. Brusca como vieste.

Citação #02

É de fato muito agradável cavalgar na aurora de um dia de primavera, pois é nessa hora que os passarinhos cantam seu canto mais doce, todos juntos numa mistura tão alegre que quase não se consegue separar um pio do outro naquela sinfonia de piados tão belos. Nessa hora tudo o que cresce da terra cheira mais doce com o frescor da manhã – as belas flores, os arbustos, os brotos nas árvores. E o orvalho pontilha a relva, como se espalhasse uma imensidão de joias multicoloridas. É nessa hora que o mundo todo é doce e limpo e novo, como se tivesse sido criado naquele mesmo instante só para o viajante que vem passando pelas estradas tão cedo de manhã.

(Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda, Howard Pyle)

À deriva

A maré sabe aonde ir,
A maré sabe se devo ficar.
Eu muitas vezes afundo, perdido
E, num segundo, logo estou de volta à beira.

Citação #01

It's funny that the first chords that you come to,

Are the minor notes that come to serenade you,

And it's hard to accept yourself as someone, you don't desire,

As someone you don't want to be.

(Rambling Man, L.M.)

Acalanto

Eu me queixava do frio e nem percebia,
no brio do abraço dela,
que a cidade era mais quente.

Luce

De um gosto agridoce
Luce, o amor deixou passar
E de tanto calejar
Pobrezinha, anestesiou-se.

Queira, Deus, que Luce volte
A amar como outrora
E seu coração agora
Que se dispa e se revolte.

Despedida

Eu perdi minhas palavras
Há um tempo não me expresso
Talvez tenha perdido o jeito, ou
Talvez tudo se acomodou no peito.
Há um tempo não navego
Nem visito os velhos portos
Passo tangente ao seu cais, pois
Ancorar aqui, não mais.

Quarteto a um bardo

Eis o boêmio grisalho
Que um trabalho árduo faz,
Mas sempre encontra um atalho,
Evitando um esforço a mais.

Pois não é o mesmo jovem de antes
Que até um pouco arrogante
Se dizia o figurão,
Então,

Alegre em conseguir
Dormir após o almoço,
Descansa um pouco o dorso
Pr'o que ainda há por vir.

Paralelo

Meu reflexo mudou, mas tampouco sou o mesmo.